quarta-feira, 5 de novembro de 2008

- Sorry.
- Ai, pára!
- O quê?
- Pára de falar em inglês. Fala em francês, árabe, chinês, mas inglês não.
- Porquê?
- Sei lá.
- Mas a gente não combinou de treinar?
- Não quero. Chega.
- Você não tá bem hoje, né?
- É. Não tou. Tou gorda, na TPM, e estressada.
- Onde você ta gorda?
- Não ta vendo minha barriga?
- Você ta linda, amor.
- Pára.
- Parar com o quê?
- Pára de fazer isso.
- Mas isso o quê?
- Tentando fazer eu me sentir melhor.
- Mas meu amor, eu só disse o que penso. A verdade...!
- Olha....eu tou avisando pra parar. É sério. Ta me enchendo o saco.
- Ta bom. Não vou dizer mais nada. EU tou ficando cansado. O dia inteiro você assim, só reclamando.
- Ah, agora você é vítima!
- Não. Só teu marido......bom, pensando bem... acho que sou...
- Você ta querendo dizer o quê?
- Não tou querendo dizer nada. Você perguntou e eu respondi.
- Não tou entendendo aonde você quer chegar.
- Amor. Meu amor. Eu não quero chegar a lugar algum. Só quero ficar aqui. Quieto. No meu cantinho.
- É sempre assim. Sempre tirando o corpo fora. Não dá pra conversar com você.
- Amor! Olha, eu quero conversar, eu não quero é brigar.
- Quer saber? Eu tou cheia!
- Cheia do quê?
- Cheia de tudo!
- Amorzinho. Escuta. A gente conversa amanhã, ok?
- Não! Agora!
- Rita, por favor..
- Ah! Agora eu sou Rita! Até agorinha eu era amorzinho!
- Olha, ta difícil... eu não agüento.
- VOCÊ não agüenta??!! E como acha que eu estou me sentindo?
- Hummm....louca?
O copo passou voando a um metro do rosto dele.
- Você ta maluca mesmo, né? Ainda bem que nem pontaria tem!
- Quer saber, Ricardo? Você não me merece!
- Não mesmo!
- Eu sempre fiz tudo por você – disse ela chorando.
Ele ficou calado, olhando.
- Você é um insensível. Homem é tudo insensível ! Todos vocês!
Ele se ajeitou no sofá. Não sabia se devia falar ou ficar quieto. Melhor ficar quieto,
decidiu. Melhor não arriscar.
- Eu só quero um pouco de consideração, de companheirismo. É pedir muito?
- E o que é que eu tenho feito nesse tempo todo, Rita? Não tenho ficado com você? Por um acaso tou com meus amigos? Tou assistindo meu futebol?
- Você ta aqui, mas não quer estar! Você finge! Essa é a pior das coisas! A mentira! Sempre disse pra você que detesto mentira! Custa ser verdadeiro nessa relação?
- Ta bom, meu amor. Não sei aonde você acha que eu menti ou não fui verdadeiro. Mas eu te amo. Vou prestar mais atenção. Me perdoa.
- Tudo bem – disse fungando.
- Tudo bem então?
- Tudo.
- Certeza?
- Certeza.
- Eu te amo.
- Eu também amo você.
- Que bom.
- Amor...
- O quê, linda?
- Fala a verdade, você acha que eu tou barriguda?
- Só um pouco, amor. Mas quase não dá pra reparar.
- Ta vendo? Antes me chamava de gostosa! Agora diz que eu tou barriguda! Barrigudo ta você!
- Maluca.....!
- Traste!

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

- Nãããõoo...
- É.
- Sério?!
- Sério.
- Tem certeza?
- Tenho.
- Cara, como assim?
- Pois é, prá vc ver.
- Gay?
- A-hã. Gay.
- Mas como....gay?
- Gay, bicha.. . ou como vc quiser chamar.
- Cara...não tou acreditando! Tem certeza de que era ele?
- Absoluta.
- Mas, péra...será que não foi só impressão?
- Impressão? Tava usando calça agarradinha roxa - que ele deve chamar de púrpura prá combinar com purpurina - camiseta regata super grudada mostrando a barriguinha, e sandália rasteirinha com strass. É o quê?
- Meu!!! Quem diria!!!
- Não é?
- Tou bege!
- Eu fiquei vermelha de ódio. Me enganou, né?
- E vc nunca percebeu? Como vc nunca percebeu?
- Ué. E vc percebeu?
- Eu não namorei com ele. Você namorou ...cara, você namorou meses! Como não notou nada?
- Porque ....sei lá porque......ele sempre foi homem, né? Parecia.... agora tá aí: é bicha.
- A cara do Mick Jaeger!
- Vai ver é por isso.
- Bem que teu pai dizia que ele não era prá você...prá você e prá mulher nenhuma, né?
- É...pai é pai. Sempre sabe...ou é praga de pai, sei lá.
- Pai tem faro...tipo cão.
- É...lembra do Carlos?
- Carlos?
- É, o Carlinhos...
- Ah, o loirinho?
- Então.....aquele foi azar desde sempre...
- Vocês tavam firmes, né?
- É...chamei ele prá almoçar em casa e tudo. Fiz a salada...perdi minha unha postiça dentro dela quando temperava. Tive que ficar procurando sem ele perceber....e ele do meu lado. Lembra que eu roía a unha até o toco?
- É mesmo!!!
- Então...a colinha amoleceu, sei lá. Caiu dentro da salada... uma vergonha. Ele dizia que minhas unhas eram lindas. Nem deu tempo de colar. Ele viu.
- Que zica...
- Não foi?
- E porque vocês terminaram? Por causa da unha?
- Pegaram ele roubando peixe na feira.
- Afe! Que pobre!
- É...manjuba.
- O que é manjuba?
- O peixe. Um peixinho. Pôs uns três no bolso. O cara da feira viu, bateu nele. Me contaram.
- Mas você, hein? Affe! Deus me livre!
- É... não sei o que acontece. Tô numa fase azarada, sei lá.
- Você escolhe mal, é isso que acontece... presta mais atenção, conhece o cara, fala com os amigos...não vai ficando assim, sem conhecer, né?
- Ai, não sei...acho que eu atraio. Tipo ímã de coisa ruim, sabe?
- Você que escolhe mal.
- Lembra do Marcelo?
- Aquele que você conheceu na balada da Vila Madalena?
- Esse mesmo.
- Que é que tem?
- A gente até tava indo bem. Mas ele só vinha me ver tipo uma vez por semana. Sempre tinha uma desculpa. Até desconfiei que fosse gay como o outro.
- E....?
- Casado. Tirava a aliança quando vinha.
- Safado!
- É.
- Como você soube?
- Fui prá uma balada em São Bernardo e ele tava lá. Com a mulher, a jabiraca. De aliança e tudo.
- Ele te viu?
- Viu, ficou branco. Acho que pensou que eu fosse dar vexame, sei lá. Fingiu de morto, que não me conhecia.
- Cachorro....
- Muito cachorro. Canalha.
- E agora? Tá com alguém?
- Não, né... tou sozinha.
- Melhor. Dá um tempo. Escolhe melhor.
- É. Mas tem um cara ali naquela mesa que não pára de me olhar. Lindo. Olhar tão doce...
- Onde?
- Naquela mesa do canto.
- Perto da janela?
- Não. Perto do espelho. De camiseta azul.
- Sentado com o cara de camiseta bege?
- Ele mesmo. Não é lindo?
- É...linda...minha vizinha... sapatão.