sexta-feira, 10 de setembro de 2010

TEMPOS MODERNOS

- Oiiii !!!!
- Oi....
- Quanto tempo!
- Nossa....é mesmo....
- Vi suas fotos novas. Estão lindas.
- Ah....que bom que gostou...as suas....são as mesmas, né? Faz quanto tempo que não muda elas?
- Seis anos...
- Você ainda tem cabelos?
- Tá com raiva.
- Não, não estou não.
- Ta sim. Ficou triste comigo.
- Claro que não. Porquê ficaria?
- Sei lá. Talvez vc ache que eu te larguei.
- Imagina...
- É sim....tou percebendo pela forma que ta escrevendo. É mágoa.
- Ué, porque mágoa?
- Não sei não. Olha, tenho pensado muito em vc. Desde que vi suas fotos novas.
- Ah, é? Qdo vc viu as fotos?
- Ontem.
- Sei...
- Vdde!... senti saudades.
- Ã-hã..
- Nossa...que frieza...
- Olha, há uns....três anos acho...depois de uma conversa de cinco horas no msn, vc me disse pra eu entrar de novo as 19h, pq adorava falar comigo, ia morrer de saudades...blá, blá, blá. entrei as 18h50 e esperei até as 23h15. Até 23h15!!!!!!!!!!!!!! E voltei na noite seguinte, e na outra e na outra. Aposto que me bloqueou pra eu não ver que estava online. Custava dizer que não queria mais?
- ...
- Olha....tou namorando e com um cara muito legal. Um cara bacana, bem diferente dos trastes que gostei até agora. Um cara lindo, que me ama. Um HOMEM de verdade!
- Ta bom...olha...me desculpe qq coisa. Não quis te deixar triste. Aconteceram várias coisas na minha vida....
- Sei...olha....desculpe mas não quero saber, ok?
- Ta bom... então...td de bom pra vc.
- Eu sei. Tchau Silvio.
- Xau Marcinho.

terça-feira, 27 de abril de 2010

Como é grande o meu amor por você.

Em pé, na terceira fila do auditório lotado e “desenhando” um coração gigante no ar, eu estava chorando. Tá, na verdade, eu tava era mesmo me acabando de chorar.
A imagem, me contaram depois, apareceu nos telões gigantes que ladeavam o imenso palco.
Dezenove anos antes, em outro auditório, meu coração disparado também esperava a entrada dela. De longe, a mais bonita. O lábio, cortado e inchado por causa de um tombo. Os cabelinhos castanhos, desgrenhados e grudados na cabeça pelo suor, de tanto correr. (fala sério: quem consegue manter a classe aos 6 anos?). De longe a mais bonita. Fiquei em pé, chorando e aplaudindo.
- É minha filha! – disse eu, chorando e babando. Uma aguaceira só.
Tão pequenininha e com diploma do prézinho!
Dezenas de imagens passaram pela minha mente: cílios cortados com tesourinha na aula de trabalhos manuais aos 6 anos, chiclete nos cabelos aos 7, hepatite aos 9, braço quebrado, cotovelo rachado, febre, colegial, emprego, namorado, faculdade...e, meu Deus! A moça mais bonita no palco!! Tão pequenininha e já recebendo o diploma da faculdade! A musica de fundo era “Como é grande o meu amor por você”.

Fiquei em pé e desenhei um coração imenso no ar, me acabando de chorar.
A imagem apareceu no telão...mas, e daí? Era pra moça mais bonita.

Sem dúvida, a mais bonita.
(Mariana foi graduada Bacharel em Marketing, ontem, 26/04/2010. De longe, a mais inteligente naquela colação de grau).

terça-feira, 13 de abril de 2010

É show!

- E aí mãe? Tá de pé o show hoje?

Claro que tava.
Fazia tempo que eu não ia pra um show. Ou não tinha tempo, ou não tinha companhia. Quando tinha tempo e companhia, não tinha nenhum show que me desse vontade de ver.
Hoje eu tinha tempo e companhia. Também gostava da banda. Muito.
No ultimo show deles na cidade, minha filha foi com amigas e conseguiu entrar no camarim. Ficou praticamente em transe ali, pertinho dos ditos.

- Dá um autógrafo aqui, no meu DVD?
- Claro!
- Fala com a minha mãe pra ela acreditar que eu tou aqui!
- ....!
- Peraí que ta chamando!
- ....
- Mãe! Cê não vai acreditar! Tou no camarim! Adivinha quem quer falar com você?! Peraí mãe!
- Fala aí com a minha mãe!
- ....oi mãe da Dri.... tudo bem?
- ...!!!!! Tu...tu..do..... (voz embasbacada)
- Um beijo mãe da Dri!
- Um...be....
- Mãe, não é um fofo? Peraí, tem mais um. Dá oi pra minha mãe!
- Oi mãe! Sua filha ta querendo ir no próximo show. Deixa ela ir e vai junto, tá?
- Tá........
- Não são lindinhos, mãe? Tchau!
- Tchau......(caí na cadeira)
- GENTEEEEEEEE!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! EU FALEI COM ELEEEEEES !!!!!!!!

Desde aquele dia aumentou a vontade de ir a um show deles. Fofos.

Cheguei em casa correndo do trabalho, banho rápido, jeans e sandália plataforma salto 10.
- Mãe, ce não vai agüentar. Vai de tênis ou rasteirinha.
Não queria ninguém na minha frente, tapando a visão.

- Não. Não esquenta, tou bem.

Chegamos duas horas antes do portão abrir. Fila enorme.
Ficamos lá, os quatro. Papo animado no começo, aos poucos foi diminuindo, na mesma proporção em que a dor na batata da perna aumentava.
- Tua coluna ta entortando?
- Ai que bolsa pesada......
- Meu, não agüento mais ficar em pé. Meu pé tá formigando!
- O meu ta dormente.
- Senta no chão, mãe!
- Eu? Toda arrumada? Nem morrrrta! Morro mas não sento.
- Ó a fila andando aê dona Maria!
- ....
- Calma, mãe. Não reage. Não fala nada.
- ...
- Mãe, presta atenção. Tamo chegando na catraca. Quando a gente passar pela revista, sai correndo pra gente pegar o melhor lugar lá perto do palco, ta?
- ...
- Corre, mãe! Corre!
- .....!!!! Arf...arf....arf......aaaaai......ca....dê ....o ....ar.....? Meu..... Deus..... do..... céu.... meu ...........co....ra....ção........
- Aqui ta bom, né gente?
- Ah-hã, ta ótimo.
- Mãe, aqui ta bom pra você? Cê ta enxergando o palco?
- Tou....arf..... arf... arf.........

Apesar da falta de ar e taquicardia, dava pra enxergar o palco. Um metro e sessenta e oito, mais os 10 cm da sandália, eu era praticamente um muro.
- arf..................arf........(senti a respiração voltando) demora pra começar?
- Mãe, agüenta aí. Faltam só 2 horas pra começar o show.
- Meu Deus....
- Passa rapidinho mãe.
- ....
Exausta de ficar em pé com aquele sandalhão, reparei que pelo menos todo mundo em volta tinha cara boa. Sem dúvida era um show muito “família”. Pessoal tranqüilo, davam uns sorrisinhos pra gente.
Lugar bom a gente ficou, pensei. Gente bacana.

Duas horas depois, as pernas tremiam. A dorsal parecia em fogo. Nada do show começar.

- .... o show não vai começar?
- Calma, mãe. As vezes atrasa um pouco.
- Mas já ta meia hora atrasado..!
- É assim mesmo, mãe.
- Ai...eu quero sentar...
- Mãe, não dá pra sair agora. Guenta aí, senão a gente perde o lugar.
- ...
- Mãe! O que ce ta fazendo?
- Tou dando uma sentadinha aqui...
- Mãe! Levanta! No chão não!
- Só um pouquinho......
- Levanta daí, mãe! Que vexame!

Levantei na horinha que a musica começou.
Gritaria. Povo pulando.
Um cotovelo deu uma estocada no meu peito. Alguém fincou o tênis no meu pé. Três vezes.

O pessoal calmo e família tinha desaparecido.
Duas grandonas surgiram na minha frente tapando a visão. Quê??! Quatro horas e cinqüenta minutos de pé pra não enxergar nada de nada??? Não meeeesssmo!
Comecei a bater palmas fazendo meus braços rasparem na chapinha das grandonas (mulher odeia que desmanchem a chapinha).As grandonas me olharam feio e foram saindo de lado. Aproveitei a vaga delas e fui indo mais pra frente.
A banda pediu pra todo mundo cantar o refrão bem na hora que um copo de água voou na minha cabeça.
Ódio.
Um cara melecado de suor me abraçou enquanto o povo ensandecido berrava a letra.
Ódio.... ódio.
Foi aí que aconteceu.......

Olhei na direção da minha filha, e vi o guitarrista dando a plalheta da guitarra pra ela!
Que lindo!!!!!!!!! Ele deu um beijo na palheta e entregou pra ela!

- E aí, amiga. Foi no show ontem com as filhas? Como é que foi?
- Tãããão lindo!!!!! Amei! Showzáço! Ma-ra-vi-lho-so!

segunda-feira, 5 de abril de 2010

O "ser" mãe.

Ser mãe é a coisa mais maravilhosa deste mundo.
Talvez a maravilha que é ser mãe só se compare a uma coisa: ser pai.
Talvez.
Sabe aquela estória de “ser mãe é padecer no paraíso”? Tudo mentira. Cadê o paraíso?
Sim, porque no paraíso não existe preocupação. Ninguem fica sem dormir porque um dentinho tá nascendo. Ninguem fica ajudando a fazer maquete prá trabalhinho de escola até 2h00 da manhã, fingindo que o gel azul de cabelo é rio. Ninguem cuida de uniformes, lanchinhos, leva ao pediatra, dentista, escola...
Não. No paraíso não há essa trabalheira toda que dá ser mãe.
Certeza que lá ninguem chora no primeiro dia de aula daquele serzinho indefeso que até há pouco nem falar sabia; que tudo o que comia era papinha molenga, pois nem dentes tinha.

Não, ser mãe não é padecer no paraíso, porque no paraíso ninguem padece. Mas mesmo padecendo na terra, ser mãe é a coisa mais maravilhosa deste mundo. Talvez só comparada com ser pai.
Já disse isso?. Ah, verdade. Já disse.

Ser mãe é prazeroso. É duro, mas prazeroso.
É duro nos momentos de pegar no pé, de dizer o não necessário, de ver o choro sentido na hora da vacina. É duro não saber o que fazer na hora da queda, da catapora, da virose, da dor de ouvido, da febre, da 32ª vez do mesmo episódio do Chaves e Chapolin Colorado.

É difícil ter todas as respostas para perguntas do tipo: “mãe, como é que a água fica presa na nuvem?”.
Difícil encarar pessoas num elevador cheio, quando a filhinha pequena diz que “a tia que deu aula foi a professora prostituta porque a outra faltou”. Explicar o quê? Dizer “ahhh, filhinha, é substituta, viu?” não melhorava nada.


O sorriso amarelo faz parte da vida de mãe.

Mas ser mãe não é feito só de sorriso amarelo, gel azul, nem vermelho febre.
Ser mãe é um arco-íris de emoções.
Grandes e maravilhosas emoções.
Só comparadas com ser pai.

Talvez.

terça-feira, 30 de março de 2010

Você é quem sabe!

- Amor, tudo bem se sábado eu for jogar pelada com o pessoal lá do escritório?
- Você é quem sabe.
Aquela resposta ficou ecoando em minha cabeça:

“ - Você é quem sabe, aabe, aaabe...”
Estremeci.
Por um momento o mundo parou. Congelou.


Se você imagina que “você é quem sabe” significa que eu tenho algum poder de decisão, errou. Também não significa que eu “sei” alguma coisa.

Não.
Na verdade, “você é quem sabe” queria dizer que eu não tinha a menor idéia do que podia acontecer se resolvesse ir pro jogo.
É mais ou menos o seguinte:
- Quer ir, vai, mas vai ter troco. Ou:
- Quer ir, vai. Você é quem sabe. Mas me aguarde!

Conheci a Ângela no "Par Ideal" - um desses sites de relacionamento. Ela se descrevia: “meiguinha, carinhosa e tudo o que eu quero é fazer você feliz!”.

Como tudo o que eu queria era ser feliz, casamos 3 meses depois. Tá, eu tava carente, e quando a gente fica carente, fica burro também.
Quando a gente casa, pensa que a partir daí tudo vai ser lindo e a dois: sonhos, saídas, planos, realizações...
Bom, por um lado é verdade: ela sonha, eu compro. Saímos os dois, ela se diverte. Ela planeja viagens e a compra da casa, eu pago.
Lembrei de um dia, no supermercado. Ela enchendo o carrinho, eu empurrando. Parei perto da pipoca de microondas. Adoro pipoca de microondas. Disse:
- Querida, vamos levar pipoca?
- Tá. Escolhe aí.

Meiga.
Peguei 3 de manteiga. Ahhh...adoro pipoca com gostinho de manteiga...
- Ai, Edu!! Mas de manteiga?! A casa fica empesteada, toda fedendo! Pega outra! Pega natural que é melhor! Affff !

Aos poucos, fui voltando das minhas lembranças de nossos maravilhosos momentos a dois.

O eco continuava:
- “Você é quem sabe...aabe.....aaaaaabe!”
Resolvi tomar uma decisão:
- Querida, não vou pro futebol. A gente fica em casa e vê um filminho, tá bom?
- Um-hum – responde ela, sem desgrudar o olho da novela. – Pode ser...

Que carinhosa.
- Que filme você quer assistir?
- Você é quem sabe...


quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Alguma coisa está fora da ordem...

Na minha hora de almoço, fui até uma casa lotérica prá fazer um depósito.
Sim, um depósito, porque hoje faço depósitos e pago contas na casa lotérica, recarrego meu telefone no supermercado, compro papel higiênico na farmácia, chicletes, doces, sorvetes e fone de ouvido nas bancas de jormais, tomo um cafezinho e como um pedaço de bolo na livraria...
Fui andando e pensando nisso.
Me lembrei de uma música do Caetano...

Mas, voltando, cheguei na lotérica pro tal depósito.
Fila monstro. Ou monstra. Fiquei lá, debaixo de sol.
A fila avançava uns dez metros na rua, mas era muito menor que a fila no banco. Melhor ficar ali mesmo.

Bem na minha vez (bem na minha vez mesmo, quando cheguei na boca do caixa!) a caixa avisou que o sistema parou.
Olha a minha cara de alegria.

Na fila, ouvi uma briga entre 2 namoradas.
Uma dizia:
- vc nem falou prá ela que tava comigo.
A outra:
- como não? Falei: essa é minha sogra e essa é minha mina!

Como cantava Caetano...
"Alguma coisa está fora da ordem..."

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Banheiro Feminino

Geralmente não coloco aqui, nesse blog, textos enviadas por amigos e tal, porque o objetivo desse blog é registrar essas estorinhas que escrevo prá relaxar. Mas algumas vezes sucumbo (eita palavrinha estranha! Me lembra coisa nefasta, tipo: catacumba, súcubus...) a uns textos irresitíveis, que falam tanto com meu "EU", o meu interior, que até meus rins respondem. E aí, quase tenho que correr pro banheiro, de tanto rir. Esse, por exemplo, poderia ter sido escrito por mim, já que passei por essa situação - igualzinha, sem tirar nem por - porém foi enviada por meu amigo Alencar.
Mas chega de enrolação.
Vamos ao texto.
O grande segredo de todas as mulheres com relação aos banheiros é que quando pequenas, quem as levava ao banheiro eram suas mães. Elas ensinavam a limpar o assento com papel higiênico e cuidadosamente colocavam tiras de papel no perímetro do vaso e instruíam:
"Nunca, nunca sente em um banheiro público" E, em seguida, mostravam "a posição", que consiste em se equilibrar sobre o vaso numa posição de sentar sem que, no entanto, o corpo entre em contato com o vaso. "A Posição" é uma das primeiras lições de vida de uma menina, super importante e necessária, e irá nos acompanhar por toda a vida. No entanto, ainda hoje, em nossa vida adulta, "a posição" é dolorosamente difícil de manter quando a bexiga está estourando.
Quando você TEM que ir ao banheiro público, você encontra uma fila de mulheres, que faz você pensar que o Bradd Pitt deve estar lá dentro. Você se resigna e espera, sorrindo para as outras mulheres que também estão com braços e pernas cruzados na posição oficial de "estou me mijando".
Finalmente chega a sua vez, isso, se não entrar a típica mamãe com a menina que não pode mais se segurar. Você, então verifica cada cubículo por baixo da porta para ver se há pernas. Todos estão ocupados. Finalmente, um se abre e você se lança em sua direção quase puxando a pessoa que está saindo. Você entra e percebe que o trinco não funciona (nunca funciona); não importa... você pendura a bolsa no gancho que há na porta e se não há gancho (quase nunca há gancho), você inspeciona a área.. o chão está cheio de líquidos não identificados e você não se atreve a deixar a bolsa ali, então você a pendura no pescoço enquanto observa como ela balança em teu corpo, sem contar que você é quase decapitada pela alça porque a bolsa está cheia de bugigangas que você foi enfiando lá dentro, a maioria das quais você não usa, mas que você guarda porque nunca se sabe... Mas, voltando à porta... Como não tinha trinco, a única opção é segurá-la com uma mão, enquanto, com a outra, abaixa a calcinha com um puxão e se coloca "na posição". Alívio...... AAhhhhhh.....finalmente... Aí é quando os teus músculos começam a tremer ... Porque você está suspensa no ar, com as pernas flexionadas e a calcinha cortando a circulação das pernas, o braço fazendo força contra a porta e uma bolsa de 5 kg pendurada no pescoço. Você adoraria sentar, mas não teve tempo de limpar o assento nem de cobrir o vaso com papel higiênico. No fundo, você acredita que nada vai acontecer, mas a voz de tua mãe ecoa na tua cabeça "jamais sente em um banheiro público!!!" e, assim, você mantém "a posição" com o tremor nas pernas... E, por um erro de cálculo na distância, um jato finíssimo salpica nas tuas pernas e molha até tuas meias!! Por sorte, não molha os sapatos. Adotar "a posição" requer grande concentração. Para tirar essa desgraça da cabeça, você procura o rolo de papel higiênico, maaassss, CÉÉÉÉÉÉOS...! O rolo está vazio...! (sempre) Então você pede aos céus para que, nos 5kg de bugigangas que você carrega na bolsa, haja pelo menos um miserável lenço de papel. Mas, para procurar na bolsa, você tem que soltar a porta. Você pensa por um momento. Não há opção... E, assim que você solta a porta, alguém a empurra e você tem que freiá-la com um movimento rápido e brusco enquanto grita OCUPAAADOOOO!!! Aí, você considera que todas as mulheres esperando lá fora ouviram o recado e você pode soltar a porta sem medo, pois ninguém tentará abrí-la novamente (nisso, nós as mulheres nos respeitamos muito) e você pode procurar teu lenço sem angústia. Você gostaria de usar todos, mas quão valiosos são em casos similares e você guarda um, por via das dúvidas. Você então começa a contar os segundos que faltam para você sair dali, suando porque você está vestindo o casaco já que não há gancho na porta ou cabide para pendurá-lo. É incrível o calor que faz nestes lugares tão pequenos e nessa posição de força que parece que as coxas e panturrilhas vão explodir. Sem falar da porrada que você levou da porta, a dor na nuca pela alça da bolsa, o suor que corre da testa, as pernas salpicadas... A lembrança de tua mãe, que estaria morrendo de vergonha se te visse assim, porque seu bumbum nunca tocou o vaso de um banheiro público, porque, francamente, "você não sabe que doenças você pode pegar ali" ... você está exausta. Ao ficar de pé você não sente mais as pernas. Você acomoda a roupa rapidíssimo e tira a alça da bolsa por cima da cabeça!... Você, então, vai à pia lavar as mãos. Está tudo cheio de água, então você não pode soltar a bolsa nem por um segundo. Você a pendura em um ombro, e não sabendo como funciona a torneira automática, você a toca até que consegue fazer sair um filete de água fresca e estende a mão em busca de sabão. Você se lava na posição de corcunda de notre dame para não deixar a bolsa escorregar para baixo do filete de água... O secador, você nem usa. É um traste inútil, então você seca as mãos na roupa porque nem pensar usar o último lenço de papel que sobrou na bolsa para isso. Você então sai. Sorte se um pedaço de papel higiênico não tiver grudado no sapato e você sair arrastando-o, ou pior, a saia levantada, presa na meia-calça, que você teve que levantar à velocidade da luz, e te deixou com o bumbum à mostra! Nesse momento, você vê o teu carinha que entrou e saiu do banheiro masculino e ainda teve tempo de sobra para ler um livro enquanto esperava por você.
"- Por que você demorou tanto?" pergunta o idiota.
Você se limita a responder: "- a fila estava enorme" .
E esta é a razão porque as mulheres vão ao banheiro em grupo. Por solidariedade, já que uma segura a tua bolsa e o casaco, a outra segura a porta e assim fica muito mais simples e rápido já que você só tem que se concentrar em manter "a posição" e a dignidade.
E Obrigada a todas as amigas que já me acompanharam ao banheiro

terça-feira, 3 de novembro de 2009

"Amiga" secreta

Não sei se porque sou a mais velha de 5 filhos e, aí, acabava sendo a que “tomava conta” dos outros irmãos na infância; ou, talvez, pelas circunstâncias da vida....ou até porque sou assim mesmo, coisa de personalidade, sei lá, mas acho que sou um pouco diferente da maioria das mulheres.

Começa pelo básico: não gosto de fazer compras. Fila de shopping, troca-troca de roupas no provador, fila do caixa... tudo isso é pra mim uma tortura que às vezes só não me faz desistir pela necessidade.
Outra coisa: ficar numa rodinha onde o assunto são receitas ou organização de casa me faz ficar impaciente. Dou uns sorrisinhos pra não pensarem que sou uma ETéia ou pra o clima não ficar chato, mas haja paciência pra ouvir que “a mocinha da novela das 8 está grávida e – céos! – o filho não é do marido, e ele pediu um teste de DNA e agora vai abandoná-la, mas isso é bom porque agora ela pode ficar com o “mocinho!””
(Aproveitando, o que aconteceu com aquela época em que o mocinho ERA o marido? )
Voltando ao assunto...(sorry, mas afinal, tenho algumas coisas de mulher, claro! Como, por ex., dar a volta no assunto, falando, falando, ao invés de ir direto ao ponto. Ta vendo? Podia dizer só que sou prolixa, mas aí não seria mulher, né?)...as vezes tenho que fazer coisas que PRECISAM de habilidades (ou saco) que eu sinceramente não tenho.
Exemplo?
Todo final de ano tem o bendito amigo secreto onde o ponto alto são os bilhetinhos.
Em um departamento composto só de mulheres, os bilhetinhos proliferam mais que pernilongo em praia deserta. Pra piorar, no meu departamento 95% da meninada tem “até” 26 anos, e com criatividade compatível com a idade.
Nesse clima eu, a “líder” (porque “chefe” é coisa de troglodita), já nascida quando o homem pisou na lua (ops!), tenho que disfarçar e escrever bilhetinhos no nível dos demais, sob o risco de ser descoberta (e eu morro de medo de ser descoberta. Cada vez que tenho que ir até a bendita caixinha de amigo secreto e colocar meu bilhete sem que ninguém veja, penso em quem foi que inventou essa "benção". Fico estressada como se alguém fosse me pegar roubando, matando ou sei lá...ih...a prolixa de novo...).
O disfarce nos bilhetinhos inclui errar em pontuação e finalizar com “bjokas!”, “bjussss”, “miguxa”, “migaaaaa” e similares.

Ano passado ficava acordada até 1h da manhã fazendo bilhetinho, porque minha “amiga” reclamou que a “amiga dela” (eu) não tava nem aí pra ela porque não mandava bilhetes (e quem é que tem tempo??!!). Aí, comecei a encher ela de bilhetinhos e emails (sim, criei uma conta com meu pseudônimo e mandava emails lá de casa!), porque já estava ficando com fama de “inimiga secreta”.

Agora cá estou eu, de novo, escrevendo os tais e torcendo pra ninguém me pegar lá perto da tal caixinha.
Ass.: Estrelinha de Natal. Bjussssss!

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

AMIGO

Sabe aqueles amigos... AMIGOS?
Não tenho muitos destes, mas tenho alguns. E agradeço à Deus por suas vidas, por tê-los, por fazerem parte de minha vida.
Alguns AMIGOS meus fazem parte de um mundo “virtual”, por nunca termos nos encontrado ou tido o prazer de nos olharmos nos olhos enquanto jogamos conversa fora.
São os “amigos–jóias–raras–achadas-na–net ”.
Posso garantir que é mais difícil achar um AMIGO na net, que um diamante em um garimpo. Mas acho que sou uma “e-garimpeira” de sorte.
Um de meus AMIGOS é maravilhosamente especial.
Nos conhecemos em um destes sites de relacionamento.
Engraçado que enquanto pelo caminho de minha vida alguns "amigos" iam ficando à beira da estrada, este AMIGO ia caminhando junto. Na verdade, não “junto” a ponto de eu vê-lo sempre ao meu lado. Talvez um pouco atrás, como fazem as pessoas que acompanham meio de longe a caminhada. Ou que, por serem especiais, têm tantos AMIGOS também, que é impossível ficar ao lado de todos.
Esse AMIGO, ocasionalmente me mostrava as flores do caminho, ou me chamava pra ver os movimentos da areia. Ou o som da chuva.
De vez em quando me falava sobre em algum momento dançarmos uma música. Ou comermos um pastel.
Anunciou meu aniversário em todos os lugares virtuais possíveis e fez uma espécie de contagem regressiva, comemorando muito antes de ele chegar.
AMIGO zeloso,
AMIGO carinhoso,
AMIGO despretensioso.
Quando eu estava chateada com alguma coisa, embora nunca tenha dito à ele, algumas vezes era com ele que eu desejava falar.
Um dia disse à ele: "hoje você foi o único com quem eu tive vontade de falar." E foi mesmo.
Ele sempre me fez bem, me fez sorrir.
Esse meu AMIGO nunca reclamou de nada. Nunca pediu nada. Nunca cobrou nada. Talvez por isso ele tenha TANTO de meu coração e nem saiba.
Até o dia de hoje.

Hoje fiquei sabendo que este meu MUITO amigo está doente.

Meu AMIGO, sempre “on” para seus AMIGOS, anunciou que ficará “off” uns dias, para um tratamento pesado antes da retirada de um tumor que eu nem sabia que existia.
Não sabia, porque ele caminhava atrás. E só falava dos movimentos da areia, flores, barulho de chuva, musica, pastéis, e também das coisas lindas que viu pelo mundo virtual, e que quis me mostrar. Como as praias mais belas.
Meu AMIGO que tem um microfone horroroso, que diz que meu inglês não é tão ruim e me mostra que tem gente “pior” me fazendo chorar de rir, e que tem uma voz linda.

Gosto MUITO de você, meu AMIGO.

Desejo muito que você se recupere logo para comermos aquele pastel juntos. E rirmos.
E finalmente enxergarmos as rugas de sorrisos não virtuais.
Meu AMIGO real.
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Os movimentos da areia, que meu AMIGO me mostrou...


...e o "barulho da chuva."..

terça-feira, 13 de outubro de 2009

E-mail de um marido dedicado


Querida, está tudo em ordem.
Durante sua ausência tenho preparado meu próprio almoço, e está dando tudo certo.
Ontem fiz batata frita. Ficou bom. Era preciso descascar a batata?
Fui buscar uns pães na padaria e quando voltei o esmalte da frigideira tinha soltado e ela estava toda derretida. Inclusive o cabo! E você que me dizia que o teflon segurava qualquer coisa ...
Quanto tempo precisa pra cozinhar ovos? Já deixei eles fervendo lá duas horas, mas continuam duros que nem pedra.
Bom vou aguardar um pouco mais...
Semana passada tive um contratempo cozinhando as ervilhas. Decidi esquentar a lata no microondas e ele explodiu. A lata decolou feito um foguete, atravessou o teto e acertou a filha do seu Freitas. Ela foi parar no pronto-socorro. Ainda bem que eles tinham plano de saúde.
Já aconteceu contigo de a louça suja criar mofo? Como é possível isso acontecer em tão pouco tempo?
Aliás, atrás da pia tem de tudo que é bicho, daqui a pouco vai dar pra fazer um documentário
e vender pro National Geographic...
Durante o último almoço eu emporcalhei o tapete persa com molho de tomate. Você sempre me dizia que mancha de molho de tomate não sai.
Bobinha!
Com um pouco de querosene não tive problema algum. Saiu tudinho, inclusive a cor do tapete.

A geladeira estava criando muito gelo, então tive que fazer um defrost nela.
O gelo sai fácil se você raspa ele com uma espátula de pedreiro! Ficou ótimo, foi fácil e rápido (não sei porquê você reclama tanto prá fazer defrost!). Agora a geladeira não sei porque está aquecendo.
De toda forma, a carne ficou bem passada.

No mais, na última quinta-feira quando sai para o trabalho esqueci de trancar a porta. Alguém deve ter invadido nosso apartamento porque estão faltando alguns objetos de valor, inclusive aquele colar de marfim que seu bisavô trouxe da África.

Mas como você sempre diz, o dinheiro não traz felicidade, e tudo que é material é efêmero.

O seu guarda-roupa também está vazio, mas acho que não devem ter levado muita coisa,
afinal você sempre diz que nunca tem nada pra vestir.
Beijos mil, com muito carinho, do seu querido marido.

PS: Sua mãe deu uma passada aqui pra ver como estavam as coisas. Sofreu um infarto.
O velório foi ontem à tarde, mas preferi não te contar pra não te aborrecer à toa.
Volte logo, estou com saudades...
Não sei viver sem você!

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Nice to meet you! :)

Fazia dois meses que a última solteira remanescente do grupo (tirando ela própria) tinha se casado.
Marina, que tinha jurado que se casariam no mesmo dia, hora e igreja, numa atitude de traição, casou. Não agüentou esperar e sucumbiu aos apelos do Zé Luiz que decretou:

- ou casamos, ou me mando prá Austrália!

Marina então casou, aos 36 anos, em rebeldia à solteirice.
Glorinha tentou pegar o buquê, que caiu inexplicavelmente nos braços de uma menina de uns 6 anos que passava por ali. Nããão!!! A menininha ia casar ANTES dela!
Fez as contas rapidamente e concluiu que não casaria em menos de uns 12 anos, isso se por sorte aquela menininha engravidasse e fosse obrigada a casar aos 18.
Meu Deus! Ela casaria só com 51 anos!
Arrasada com a perspectiva de na ocasião o vestido branco combinar com a cor de seus cabelos, achou que já era hora de tomar seu primeiro porre. Escolheu tequila, porque achava lindo lamber o sal da mão, como tinha visto no filme.
O barman chamou o numero de celular que constava ao lado de “emergência – Marina”.
Marina largou o Zé Luiz no hotel 5 estrelas que conseguiram com o dinheiro da gravata picotada do noivo, e foi buscar Glorinha, que babava desmaiada no balcão do bar enquanto homens usando sombrero e tocando guitarras cantavam “La Cucaracha”.

Dia seguinte, quando acordou em sua cama, encontrou um bilhete de Marina:

- amiga, fui prá Austrália com o Zé.

Sem amor e sem amiga, resolveu que deixaria de ser solteira antes dos últimos fogos do Ano Novo. Desse ano, claro.
Lembrou que Silvia tinha arrumado namorado pela internet, e que já estava casada há dois anos. Decidiu que estava mais do que na hora de apelar. Se a Silvia, que era baixinha e fortinha (Silvia odiava ser chamada de gordinha) conseguiu, por que ela não conseguiria?
Entrou no Google e digitou:
“SITE DE RELACIONAMENTOS”

Apareceram 4.120.000 resultados.

- hummmm.....esse parece interessante...
“SITE DE RELACIONAMENTOS FREE DATE – Come to enjoy this new colored world”

Não sabe se foi o desenho do arco-íris (ela adorava a estória de que no final do arco-íris tinha pote de ouro), se foi a informação de que “more than 30.000.000 users conected all days” – não sabia inglês, jogou no Google - o fato é que Glorinha se empolgou e se cadastrou.
Uma semana depois não entendia porque só tinha arrumado amigas mulheres. Nenhum homem havia enviando qualquer mensagem. Nem um oizinho. Ficou deprê.
Quase se sentindo o bagaço da laranja, colocou Zeca Baleiro prá tocar e decidiu mudar de site.
Ao som de “Meu amor, meu bem, me ame” achou que site estrangeiro poderia ser uma boa e escolheu um que tinha como propaganda um loiro de olhos azuis na página de cadastro, dizendo:
“- Sou Igor e quero conhecer você”
Ficou apaixonada pelo loiro Igor e fez o cadastro. Precisava pagar U$ 39,00 por mês, mas achou que valia a pena. Era um investimento.
Não achou o tal Igor.
Prá fazer valer os dólares pagos, tentou se comunicar com alguns loiros de olhos azuis.
De inglês, só sabia “nice to meet you”, e logo o assunto esgotou. Tentou ainda se comunicar usando aquelas carinhas de smiles, mas não havia tipos de emoticoms suficientes prá fazer o papo evoluir.
Já quase desistindo, jurou que o próximo seria o último site que tentaria (assim como a gente jura que vai ser a última rodada de dominó online que a gente vai jogar quando perde).
Fez o cadastro, enquanto cantarolava Zeca Baleiro pela 12ª vez:

Meu Amor, Meu Bem, Me Ame
Não vá prá Miami
Meu amor, meu bem me queira
Tô solto na buraqueira
Tô num buraco
Fraco como galinha d'angola...

Logo em seguida começou a receber mensagens.
- Hummm.... esse site promete! Uau!!!
Começou a falar com Fábio-41, e na medida em que foram digitando, descobriram cada vez mais afinidade.
Conversaram até as 3h15 mais ou menos, até que Glorinha resolver desligar por puro cansaço, prometendo falarem no dia seguinte.
Lá pelas 10h00, hora em que Glorinha conseguiu abrir os olhos, Fábio já estava “on”, só esperando por ela.
Glorinha entrou, e Fabio - que na verdade nem tinha dormido mas não quis confessar - logo pediu que ela ligasse a cam.
Glorinha estava de pijama e com o cabelo desgrenhado (como era costume acordar). Disse que precisava atender a porta e correu pro banheiro prá fazer uma chapinha rápida pelo menos na franja, antes de ligar a cam. Prendeu o resto e torceu prá ele achar que o liso era natural.
Fabio achou ela linda, e Glorinha respondeu:

- Quê isso meu lindo... São seus olhos....acabei de acordar. É assim que acordo. Gostou?
- Adorei. Seus cabelos são lindos....

Fabio–41 apaixonou-se por Glorinha-39 assim que a viu, enquanto Glorinha-39 pensava que agora teria que fazer uma escova progressiva .

Ana



Todos os dias ela percebia o olhar dele quando passava perto da esquina, em direção ao trabalho. Na verdade, ela só tinha notado seu interesse há uns 2 meses, na hora da saída, quando ele deixou a guarita pra dizer “boa noite”. Achou esquisito, porque ele saiu da guarita, deu a volta por trás e alcançou Ana Maria já do outro lado – lugar de difícil acesso.
A partir daí, começou a perceber coisas que até então nunca tinha notado: quando chegava à empresa ele “coincidentemente” estava perto da porta e a abria para ela, ou parava de conversar quando ela passava. Teve também aquela vez em que ele “segurou” a porta do elevador até que ela entrasse, dando um sorriso largo (embora ele mesmo não tivesse entrado).
Ana começou a achar que estava sendo paquerada.
A idéia de ser paquerada a deixou surpresa no início. Depois, feliz.
Sentiu-se confiante, como não se sentia há uns 20 anos.
Ana há muito tinha perdido sua própria identidade. Foi esposa dedicada, mãe dedicada, filha dedicada e funcionária dedicada. Ana foi tudo, exceto Ana.
Ana vivia para os outros, assim como havia se acostumado a viver para o ex-marido.
Mas agora alguém enxergava “Ana”.
Talvez outros já tivessem enxergado “Ana” sem que ela tivesse percebido. Mas agora, não somente “alguém” enxergava “Ana”. Ela própria se enxergava.
Começou a se olhar com um olhar diferente todas as manhãs. Parecia que nunca tinha realmente
se visto. Olhava seu próprio corpo no espelho, seus cabelos, seus olhos, e começou a se achar bonita.
O responsável por esse novo “olhar” sobre si mesma era Ricardo, chefe dos seguranças da empresa. Rapaz alto, cabelos claros, gentil, e sempre bem vestido em seu terno elegante.
A princípio, Ana pensou que Ricardo fosse assim gentil com todo mundo, mas logo viu que não. Ele era gentil com “ela”.
Ana se sentia mulher, interessante, e desejada.
Os olhares e sorrisos de Ricardo fizeram tão bem à Ana que até seu jeito de andar mudou. Era agora um andar elegante, confiante.
Era outra Ana.


Sua autoconfiança fazia com que muitos outros a olhassem quando passava. Ana tinha “atitude”, diziam as amigas quando queriam justificar tantos olhares dirigidos a ela.
Ana, que se redescobriu nos olhares de Ricardo, não se interessou por mais ninguém.
Ana era assim mesmo: sempre gostou de quem gostava dela primeiro. E era fiel.
Numa dessas manhãs em que o sol brilhava nas folhas ainda molhadas da forte chuva da noite, Ana vinha descendo a rua com seu andar confiante. Ela avistou Ricardo, parado no lugar de sempre, olhando em sua direção.
Ana sabia que Ricardo também já tinha percebido seu interesse.
Resolveu caminhar com mais “charme”, na esperança de Ricardo dissesse alguma outra coisa além dos bons dias e boas noites de sempre. Lembrou de como aquelas modelos andavam nas passarelas, com elegância e confiança, capturando a atenção de todos. Resolveu fazer o mesmo. Viu quando Ricardo comentou alguma coisa com o colega que estava ao lado e voltou a olhar para Ana, como que hipnotizado.
Ana, que antes era tímida e caminhava olhando para o chão, olhava agora para Ricardo. Fixamente. Audaciosamente.
Por isso, não viu o buraco.
Ana tropeçou no buraco e sentiu como se fosse caindo em câmera lenta. Seu pé virou, e o sapato voou de seu pé, rodopiando pelo ar, caiiiiiindo..... caiiiiindo.... giraaaaando... e caiiiiindo... A própria Ana ia despencaaaaando, tentando se segurar no ar, agitando os braços freneticamente, como se fosse uma ave em queda tentando se equilibrar no espaço.....até que desabou no meio fio. Perna pra um lado, outra perna pro outro, bolsa à meio metro de distância, e o sapato, só Deus sabia onde....
Ricardo, quando viu a cena, não sabia o que fazer (afinal, nunca tinha falado com ela). Correu em sua direção e ofereceu ajuda, preocupado.
Ana levantou, pegou o sapato, e o calçou. Em seguida, morta de vergonha, pegou a bolsa, deu um sorrisinho amarelo a Ricardo, dizendo:
- Obrigada, não foi nada.
- Tem certeza?
- Sim, tá tudo bem, foi só um escorregão...esses buracos! rsrs...
Andou em direção à empresa tentando manter a pose e disfarçar a dor medonha que sentia. Queria evaporar junto com as pocinhas de chuva da calçada.
Assim que Ana pisou na empresa, deixou a pose, elegância e atitude, e foi mancando e gemendo de dor em direção ao ambulatório.
A médica achou que era ruptura de ligamento, e enquanto colocava gelo no tornozelo roxo e inchadíssimo de Ana - que já nessa altura, esquecendo o restinho de “atitude” não gemia, mas urrava de dor – pediu à enfermeira que requisitasse uma cadeira de rodas e providenciasse um táxi para levá-la ao hospital mais próximo.
A enfermeira pediu o táxi à portaria e disse que tinha que estacionar dentro do prédio, no estacionamento privativo, porque levariam Ana até ele na cadeira de rodas.
Como a empresa restringia o acesso de carros estranhos às suas dependências, enviaram um segurança para acompanhar a remoção de Ana.
E foi assim que um espantado Ricardo apareceu, trazendo a cadeira de rodas para uma Ana estrupiada.

A dor era tanta que já não se importava com mais nada.
Tirou o sapato e deu pra ele segurar, pendurou-se em seu pescoço e foi saltando em um só pé até a cadeira de rodas, chorando de dor.
Então, enquanto a médica em meio à confusão dizia um “vai com Deus, Ana!”, Ricardo empurrava a cadeira falando baixinho (só pra Ana ouvir):
- Ana.....só assim pra eu descobrir o teu nome....


terça-feira, 2 de junho de 2009

O caso da torneira...

A “borrachinha” da torneira da minha pia espanou. Perdeu a validade. Amoleceu. Parou de funcionar. Sei lá como se diz.
É uma pecinha pequena, ridícula mas fundamental pra pia não ficar parecendo uma cachoeira, com água espirrando pra todo canto.
A borrachinha estragou bem no sábado à noite. Ninguém pra ajudar a trocar.
Acho que trocar a borrachinha deve ser pior que trocar pneu de carro.
O pesadelo da troca da borrachinha começa no fechamento do “registro” de água da cozinha. Em outro evento passado, ele foi quebrado. Aquela outra pecinha, que também não sei o nome, mas que a gente segura e gira pra fechar - pois é - não tem. Tá só com o “caninho”. Tem que fechar com um alicate, mas não consigo. Como não consigo, a torneira ficou vazando.
O namorado de minha filha - que também não sabe trocar a tal borrachinha, mas quer casar - deu a idéia:
- Sogra (ele é uma pessoa com a percepção ofuscada pelo amor), amarra com um elástico, prende a torneira, força ela, que para de vazar... lá em casa minha mãe faz assim...
Será?
Não tinha elástico. Tinha uma fita amarela. Peguei a fita e amarrei a torneira. A água não parou. A fita só deu pra dar uma volta, e acho que não ficou bem amarrada.
Procurei outra coisa, e achei outro pedaço de fita. Fita verde. Amarrei a fita verde também.
A torneira com as fitas verde-amarela continuou vazando,e cada vez vazava mais.
Moro no segundo andar e acho que a saída da água é mais potente, tem mais vazão, tem mais pressão..sei lá como se diz...não entendo nada disso. Mas o problema é que continuou vazando.
Não tinha mais fita pra amarrar. Não tinha mais nada. Tinha um rolo de barbante.
...
Desenrolei barbante - MUITO - e comecei a enrolar na torneira. Vazava, ainda. Enrolei mais... a água parou.
Olhei pra torneira - que até parecia um prato de espaguete com tantos fios - e não entendi como é que uma coisinha tão "inha" podia transformar minha noite num inferno.
Desistir naquele momento foi só questão de estratégia, porque já estava pensando em pegar uma marreta e dar muito nela. MUITO.
Deixei pra tentar consertar no dia seguinte. Tava cansada, já.
No domingo, olhava pra torneira sem ânimo.
Fui adiando o conserto até à noite, e então decidi que tinha que por um ponto final no assunto. Afinal, quantas mulheres sozinhas devem passar pela mesma coisa? Com certeza tem mulheres espalhadas por todo o mundo consertando torneiras, trocando rejuntes (qualquer hora eu conto essa), trocando sifão (conto essa também).
Fui pra cozinha e acendi a luz. A luz não funcionou. Parou, queimou, sei lá! Céos!!! Peguei uma vassoura e dei uma batidinha pra ver se funcionava...ficou só um fiozinho de luz fluorescente.
Peguei umas velas e acendi pra tentar enxergar o tal buraco onde fica a borrachinha. Espalhei velas pela cozinha toda e fiquei olhando pra torneira. Parecia macumba. Cheia de fios caindo, e as fitas verde-amarela...
Apaguei as velas e fui dormir.

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Um dia qualquer, pela manhã....

Não sou pobre. Estou temporariamente desprovida de recursos financeiros. Desde mais ou menos 2003.
Mas isso não significa um estado permanente. Não, com certeza isso não me coloca de novo na categoria de “pobre”, como eu era há zil anos atrás.
Não sou. Estou. Tem diferença.
O “ser” implica interiorizar, absorver uma determinada característica, caso ela ainda não faça parte da pessoa em questão.
Já o “estar”, é passageiro. Coisa de momento.

Nesse momento "estou" dentro do ônibus. Ônibus lotado já desde o ponto final e as 7 horas da manhã, quando a funcionária da empresa que gerencia aquele caos - uma fiscal, ou sei lá qual o nome da função - grita lá de fora para quem está dentro, na porta (uns 8, divididos em 2 degraus):

- Ô pessoal ! Sobe mais um pouco, senão a porta não fecha e ninguem sai!
- Sobe mais prá onde? - pensei. - Será que devo flutuar?
Enquanto meditava sobre a situação, ouvi a seguinte conversa entre 3 moças ao meu lado:
- Quer que segure a sua bolsa?
- Ai, brigada. Bolsa grande as vezes atrapalha.
- Mas também é tudo de bom, né? Cabe tudo. O que a gente pensar, tá lá.
- É, mas quanto maior, mais tralha a gente carrega também.
- Na minha tem tudo que você possa imaginar. kit costura..
- Tenho também. Agulha, linha...tem maquiagem..
- Escova de cabelos...
- Necessaire..
- Na empresa onde trabalho tem que levar marmita. Então já viu: tem uma prá salada, uma prá mistura, uma pro arroz e feijão. Fora o bolo e as frutas.
- Afff! Cê leva tudo isso aí dentro?
- Ã-hã.
- Todo dia?
- Não. Levo as frutas 2 vezes por semana, um monte, e deixo lá. Aí, vou comendo. A noite em casa não dá tempo, né? Quando é que vou comer minhas frutas?
- Tem que tomar cuidado prá necessaire não misturar com a marmita. Já pensou o batom com cheiro de banana?
- Então. Aí fica essa bolsa enoooorme.
- Até que a tua tá pequena... Hoje na minha bolsa tem até uma calça que levei prá costureira.
- Nuooossa! Ganhou. Tem calça aí, é?
- Por quê você não trouxe numa sacolinha?
- Ah....sei lá....melhor enfiar tudo na bolsa que ficar carregando umas cinco sacolinhas. Pelo menos é uma coisa só.
- Verdade.
- Mulher é fogo, né?
- Ahhhh, mas hoje homem também leva um monte de coisas...
- É...só que numa mochila....
- É...é a única diferença.
- Levam creme prás mãos..
- Necessaire...
- Livro....
- É...eles são metro...metro....como é que é o nome?
- Metrossexual.
- Isso.

Olhei pro cara ao meu lado. Barba por fazer. Cheiro de suor já pela manhã. Camisa amassada. Não....posso até estar enganada, mas não acredito que na mochila dele tem creme prás mãos e algum livro.
Como se estivesse adivinhando meus pensamentos, ele me encarou. Desviei o olhar prá um cartaz dentro do ônibus, que dizia:

"Senhor passageiro, evite ficar parado na porta. Distribua-se pelo interior do ônibus".
Distribua-se pelo interior do ônibus? Como meu Deus???? Um braço perto do motorista, a perna perto da porta de saída, a cabeça em algum banco? O que era aquilo? Sugestão de auto esquartejamento?

O ônibus parou no ponto. Ninguem desceu. Subiram mais 4.
- Aperta aí, gente! Dá mais um passinho prá frente!
- Tá vazio aí no meio!
- Vazio onde? Cê acha que aqui tá bom, então manda a tua mãe prá cá!
- Ai meu Deus, calma pessoal....tá chegando....

O motorista resolve ligar o rádio. Joe Cocker começa a cantar: "You are so beautiful, to me......" olho pro lado e vejo o barbudo suado. Ele me encara. Eu começo a pensar que o auto esquartejamento pode ser uma opção.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Ficam as lembranças...

De toda a minha vida, ficam as lembranças.
Não tristezas, não alegrias, não saudade. Mas, lembranças. As tristezas e alegrias são momentaneas. As lembranças, para sempre.

Lembro-me bem de minhas 2 melhores amigas do tempo de escola...tempo já tão distante. Lembro do nome e sobrenome. Éramos tão inseparáveis, que ninguém nos chamava pelo nome. Diziam: o “trio”. Lembro das risadas, das conversas, das decepções. Lembro do afastamento, da tristeza, da saudade. Hoje lembro. Só. Só há lembrança.

Consigo lembrar da primeira paixão, aos 12 anos, pelo menino que por um tempo foi pra mim o mais bonito e interessante da escola. Me apaixonei pela audácia e coragem dele, que um dia levou um morcego para a sala de aula, e olhava com um sorriso deliciado as meninas dando gritinhos de pavor ao ver o bicho voando pela classe. A coragem dele era do exato tamanho de minha timidez. Eu era fascinada por ele. E ele nunca me percebeu.

Lembro de todas as vezes em que, na adolescência, “morri” de amor. Depois – como qualquer adolescente - ressuscitei. Todas as vezes. Umas cinco.
Na juventude, amores desfeitos eram como feridas de “morte”.
Anos depois, amores desfeitos eram “só” feridas.
Hoje, não feririam como antes. Virariam lembranças. Boas ou ruins, mas lembranças.

Nesta altura de minha vivência, sei bem que as tristezas - pequenas, grandes ou imensas - um dia passam. As alegrias, também.

Até a saudade, para mim, dá lugar à lembrança. Não sinto saudade de ser criança. Nem adolescente. Mas gosto de lembrar.
Posso lembrar de perfumes, sons e tons.
Das cores das tardes, das dores de amores.
Não voltaria no tempo. Cada momento teve sua vez. Cada viver, sua oportunidade.
Agora, é outro momento.

De lembrar, mas de viver.

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Mulheres, cuidado! ;)

- Restaurante legalzinho esse, né?
- É... bacana...
- Mas, então.....o que cê tava falando?
- Vocês conhecem a Vera Loyola?
- Não...
- Sei lá, acho que já ouvi o nome..
- Vera Loyola... aquela socialite! Aquela que parece o Máskara, mas com o rosto todo branco de tanta maquiagem...
- Não sei..
- Bom, ela tava no programa da Hebe...
- Aêêêê.....hehehe...ta assistindo a Hebe, né?
- Nããão!! Minha mulher tava assistindo, aí eu vi.
- Sei.
- Verdade!
- Ta, conta!
- Então. Ela disse que ta casada há sei-lá-quantos anos, acho que uns 20 e poucos, e o marido nunca viu ela sem maquiagem.
- Como nunca viu?!
- É..ela disse que põe o relógio pra despertar antes dele acordar. Aí, corre pro banheiro pra se maquiar.
- É mesmo?!
- Cara! Que maluca!
- Pois é.
- Mas mulher é assim. E quando elas põem aqueles cremes na cara e duas rodelas de pepino, uma em cada olho.
- Cara! É a visão do inferno!
- É...devia ser proibido. Acaba com qualquer casamento.
- É o tipo da coisa que é que nem cabeça de bacalhau: a gente sabe que tem, mas quer bem longe do nosso prato!
- A minha mulher, no dia do casamento, aprontou uma dessas. Acredita que quando cheguei na igreja ela

VRRRRRRRRRRRRRR........passa o carro na rua fazendo barulho do motor turbinado.
- Mentira!
- Sério.
- E como você casou?
- Casei! Mas pra você ver tinha que não dar certo mesmo. Descasei.
- E hoje, ta sozinho?
- Tou com outra, mas com essa não casei. Tamos juntos há 3 anos.
- Ué, cara! Então ce ta casado.
- É isso aí. Tá casado, meu!
- Sabe o que a minha mulher aprontou no meu aniversário do ano passado? Resolveu se embrulhar com um laço grandão, vermelho! Se enrolou toda e achou que eu ia gostar. Quando cheguei em casa e vi, deu vontade de sair correndo.
- E aí?
- Não falei nada, né? Acabou a noite.
- Sei lá o que passa na cabeça delas. Teve um dia que a minha se embrulhou também cara, com um negócio que parecia gaze, sabe? Aquela de hospital. Lembrei de múmia.
- Meu, ta louco. Pra que isso?
- Não sei, cara. Mas é de chorar.

(diálogo que ouvi na mesa ao lado, enquanto almoçava. Tentei por um tempão controlar o riso e escondê-lo com um guardanapo. Parei de almoçar e chorei de rir.)

Só prá variar...

O dia amanheceu....
de novo.

É o dia 361 ...
dia 361...
Um ano é muito tempo?
Sei lá....penso que depende...
depende do que se viveu...
depende do que se esperou...

Mas o dia amanheceu.

A janela estava aberta, a luz do dia inundou o quarto. Foi entrando sem convite, a abusada.
Como esqueci a janela aberta?
Foi o cansaço de ontem, acho. O sono veio como um desmaio.

Novo dia...
Pode ser dia novo, pode ser tudo de novo... mas é outro dia.
O que vou fazer com ele?
Vou me lembrar dos 361 dias.
E viver um dia diferente.
Só pra variar.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

- Sorry.
- Ai, pára!
- O quê?
- Pára de falar em inglês. Fala em francês, árabe, chinês, mas inglês não.
- Porquê?
- Sei lá.
- Mas a gente não combinou de treinar?
- Não quero. Chega.
- Você não tá bem hoje, né?
- É. Não tou. Tou gorda, na TPM, e estressada.
- Onde você ta gorda?
- Não ta vendo minha barriga?
- Você ta linda, amor.
- Pára.
- Parar com o quê?
- Pára de fazer isso.
- Mas isso o quê?
- Tentando fazer eu me sentir melhor.
- Mas meu amor, eu só disse o que penso. A verdade...!
- Olha....eu tou avisando pra parar. É sério. Ta me enchendo o saco.
- Ta bom. Não vou dizer mais nada. EU tou ficando cansado. O dia inteiro você assim, só reclamando.
- Ah, agora você é vítima!
- Não. Só teu marido......bom, pensando bem... acho que sou...
- Você ta querendo dizer o quê?
- Não tou querendo dizer nada. Você perguntou e eu respondi.
- Não tou entendendo aonde você quer chegar.
- Amor. Meu amor. Eu não quero chegar a lugar algum. Só quero ficar aqui. Quieto. No meu cantinho.
- É sempre assim. Sempre tirando o corpo fora. Não dá pra conversar com você.
- Amor! Olha, eu quero conversar, eu não quero é brigar.
- Quer saber? Eu tou cheia!
- Cheia do quê?
- Cheia de tudo!
- Amorzinho. Escuta. A gente conversa amanhã, ok?
- Não! Agora!
- Rita, por favor..
- Ah! Agora eu sou Rita! Até agorinha eu era amorzinho!
- Olha, ta difícil... eu não agüento.
- VOCÊ não agüenta??!! E como acha que eu estou me sentindo?
- Hummm....louca?
O copo passou voando a um metro do rosto dele.
- Você ta maluca mesmo, né? Ainda bem que nem pontaria tem!
- Quer saber, Ricardo? Você não me merece!
- Não mesmo!
- Eu sempre fiz tudo por você – disse ela chorando.
Ele ficou calado, olhando.
- Você é um insensível. Homem é tudo insensível ! Todos vocês!
Ele se ajeitou no sofá. Não sabia se devia falar ou ficar quieto. Melhor ficar quieto,
decidiu. Melhor não arriscar.
- Eu só quero um pouco de consideração, de companheirismo. É pedir muito?
- E o que é que eu tenho feito nesse tempo todo, Rita? Não tenho ficado com você? Por um acaso tou com meus amigos? Tou assistindo meu futebol?
- Você ta aqui, mas não quer estar! Você finge! Essa é a pior das coisas! A mentira! Sempre disse pra você que detesto mentira! Custa ser verdadeiro nessa relação?
- Ta bom, meu amor. Não sei aonde você acha que eu menti ou não fui verdadeiro. Mas eu te amo. Vou prestar mais atenção. Me perdoa.
- Tudo bem – disse fungando.
- Tudo bem então?
- Tudo.
- Certeza?
- Certeza.
- Eu te amo.
- Eu também amo você.
- Que bom.
- Amor...
- O quê, linda?
- Fala a verdade, você acha que eu tou barriguda?
- Só um pouco, amor. Mas quase não dá pra reparar.
- Ta vendo? Antes me chamava de gostosa! Agora diz que eu tou barriguda! Barrigudo ta você!
- Maluca.....!
- Traste!

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

- Nãããõoo...
- É.
- Sério?!
- Sério.
- Tem certeza?
- Tenho.
- Cara, como assim?
- Pois é, prá vc ver.
- Gay?
- A-hã. Gay.
- Mas como....gay?
- Gay, bicha.. . ou como vc quiser chamar.
- Cara...não tou acreditando! Tem certeza de que era ele?
- Absoluta.
- Mas, péra...será que não foi só impressão?
- Impressão? Tava usando calça agarradinha roxa - que ele deve chamar de púrpura prá combinar com purpurina - camiseta regata super grudada mostrando a barriguinha, e sandália rasteirinha com strass. É o quê?
- Meu!!! Quem diria!!!
- Não é?
- Tou bege!
- Eu fiquei vermelha de ódio. Me enganou, né?
- E vc nunca percebeu? Como vc nunca percebeu?
- Ué. E vc percebeu?
- Eu não namorei com ele. Você namorou ...cara, você namorou meses! Como não notou nada?
- Porque ....sei lá porque......ele sempre foi homem, né? Parecia.... agora tá aí: é bicha.
- A cara do Mick Jaeger!
- Vai ver é por isso.
- Bem que teu pai dizia que ele não era prá você...prá você e prá mulher nenhuma, né?
- É...pai é pai. Sempre sabe...ou é praga de pai, sei lá.
- Pai tem faro...tipo cão.
- É...lembra do Carlos?
- Carlos?
- É, o Carlinhos...
- Ah, o loirinho?
- Então.....aquele foi azar desde sempre...
- Vocês tavam firmes, né?
- É...chamei ele prá almoçar em casa e tudo. Fiz a salada...perdi minha unha postiça dentro dela quando temperava. Tive que ficar procurando sem ele perceber....e ele do meu lado. Lembra que eu roía a unha até o toco?
- É mesmo!!!
- Então...a colinha amoleceu, sei lá. Caiu dentro da salada... uma vergonha. Ele dizia que minhas unhas eram lindas. Nem deu tempo de colar. Ele viu.
- Que zica...
- Não foi?
- E porque vocês terminaram? Por causa da unha?
- Pegaram ele roubando peixe na feira.
- Afe! Que pobre!
- É...manjuba.
- O que é manjuba?
- O peixe. Um peixinho. Pôs uns três no bolso. O cara da feira viu, bateu nele. Me contaram.
- Mas você, hein? Affe! Deus me livre!
- É... não sei o que acontece. Tô numa fase azarada, sei lá.
- Você escolhe mal, é isso que acontece... presta mais atenção, conhece o cara, fala com os amigos...não vai ficando assim, sem conhecer, né?
- Ai, não sei...acho que eu atraio. Tipo ímã de coisa ruim, sabe?
- Você que escolhe mal.
- Lembra do Marcelo?
- Aquele que você conheceu na balada da Vila Madalena?
- Esse mesmo.
- Que é que tem?
- A gente até tava indo bem. Mas ele só vinha me ver tipo uma vez por semana. Sempre tinha uma desculpa. Até desconfiei que fosse gay como o outro.
- E....?
- Casado. Tirava a aliança quando vinha.
- Safado!
- É.
- Como você soube?
- Fui prá uma balada em São Bernardo e ele tava lá. Com a mulher, a jabiraca. De aliança e tudo.
- Ele te viu?
- Viu, ficou branco. Acho que pensou que eu fosse dar vexame, sei lá. Fingiu de morto, que não me conhecia.
- Cachorro....
- Muito cachorro. Canalha.
- E agora? Tá com alguém?
- Não, né... tou sozinha.
- Melhor. Dá um tempo. Escolhe melhor.
- É. Mas tem um cara ali naquela mesa que não pára de me olhar. Lindo. Olhar tão doce...
- Onde?
- Naquela mesa do canto.
- Perto da janela?
- Não. Perto do espelho. De camiseta azul.
- Sentado com o cara de camiseta bege?
- Ele mesmo. Não é lindo?
- É...linda...minha vizinha... sapatão.

sexta-feira, 31 de outubro de 2008


O frio começou pelas costas por causa do vento gelado de fim-de-tarde. O píer continuava deserto. Eu olhava aqueles pássaros que de vez em quando faziam um vôo rasante na tentativa de pegar um peixe. Como era o nome deles? Nunca sabia ao certo.Gaivotas? Acho que eram gaivotas....sei lá..

Enquanto ele se aproximava, eu olhava pela janela. Nem vi quando parou perto da minha mesa, com o copo em uma mão e o prato em outra, sorrindo. Continuei com a cabeça apoiada na mão, cotovelo na mesa, olhando a paisagem lá fora, arrumando coragem pra voltar pro trabalho. Não agüentava mais aquelas reuniões. Não hoje.
- Oi. Vi que você tá sozinha. Eu também. Detesto comer sozinho – disse, com um sorriso muito branco. Posso sentar aqui com você?
Olhei para ele por uns cinco longos segundos, até entender o que dizia, tão absorta estava em meus pensamentos sobre aquela manhã. Pensei: “meu Deus, eu não quero conversar....afasta essa pessoa, desintegra”, e sorri para ele, um sorriso mentiroso, fraco e sem convicção.

Agora já alguns barcos retornavam, talvez por causa da promessa de chuva que o céu cinza escuro trazia. Eu não entendia nada de pescaria e nem gostava. Mas gostava do mar. Na verdade, só comecei a gostar depois que o conheci, porque nem nadar eu sei. “Não sabe nadar?” – ele perguntou rindo um dia.

Começou a falar enquanto comia. Disse que sentia falta da família em volta da mesa e saudades da praia em Floripa. Enquanto ele falava sem parar, eu continuava com o cotovelo na mesa e a cabeça apoiada na mão. Olhava as mãos dele, grandes. Os cabelos eram levemente despenteados. Os olhos quase sumiam com o sorriso largo. Vestia uma camiseta da Osklen. Todo ele lembrava vida tranqüila e praia. Ao contrário de mim, enfiada naquele terninho preto. Enquanto ele falava, eu não conseguia deixar de pensar no gerente da empresa, reunindo todos os funcionários naquela manhã prá avisar: - “estamos desativando a filial brasileira. Até o final do mês encerramos as atividades. Foi muito bom poder contar com vocês durante esse tempo...” a voz lacônica do gerente mostrava o discurso cuidadosamente ensaiado antes da reunião. Agora tinha que pensar como ia pagar as contas.
As empresas estavam demitindo e não havia contratações por causa da crise, era o que eu lia.

As redes já tinham sido recolhidas e os pescadores ido embora. O frio tinha aumentado. Vesti a jaqueta, mas o vento gelado entrava por todas as frestas de minha roupa. Há quanto tempo já tava ali? Não tinha noção. Duas horas? As ondas eram altas e o céu, cinza escuro esverdeado.

Ele não me deixou voltar para o escritório. Na verdade, eu tava pouco me lixando para o escritório. Não queria ficar até o final do mês. Ia acabar ficando, mas não queria. Não ia voltar pra lá hoje.
Ficamos ali conversando. Ou melhor, ele falando e eu ouvindo. Não estava animada, não queria falar. Não queria nada, nem levantar dali. Queria virar uma estátua e não precisar mais levantar, comer, procurar emprego, ir ao banheiro, nada. Acho que por isso fiquei lá, ouvindo e ouvindo ele falar entusiasmado sobre o que mais gostava de fazer: surf. De vez em quando escapava uma ou outra palavra como “gunseira” , e ele logo explicava do que se tratava. Era um vocabulário de surfista, que eu nunca tinha ouvido e nem me interessava. Só continuava ali porque levantar e andar seria pior. Queria permanecer estátua até o mundo se acabar no “Big Crunch” . Será que ele sabia o que era Big Crunch? Não, acho que não. Provavelmente só sabia o que era “Big rider” - surfista de ondas grandes - como ele me explicou. Nossos mundos eram tão diferentes! E o dele não me interessava nem um pouco.

Eu estava de pé no píer, tentando enxergar qualquer sinal dele, mas nada. Alguma coisa errada tinha acontecido. Ele nunca se atrasava. Na verdade, às vezes se atrasava sim. Quando estava surfando, esquecia do resto do mundo para viver no mundo só dele. Ele e o mar eram um. O mar era a casa dele, então.

Saímos do restaurante já bem tarde. Ele animado e eu me arrastando. Acho que ele não percebeu. Talvez achasse que eu era assim mesmo, estilo semimorta. Não sei o que fez ele se interessar por mim. Não sei mesmo. Ele parecia um modelo bronzeado para capa de revista de “surf wear” e eu, uma modelo amarelada para capa de revista “funcionária do mês”. Insistiu para sairmos à noite. Pensei: não tenho nada a perder. Já tinha perdido o emprego, e ele disse que pagava. Pelo menos eu não ia gastar - o que era ótimo - já que estava desempregada. É, ia economizar. Aquele pensamento me fez sorrir.

O resgate já estava procurando há meia hora. Não o encontravam. A chuva era forte e interromperam as buscas. Eu pedi para continuarem. Sabia que ele era forte, treinava muito. Provavelmente estava em alguma pequena ilha, sem conseguir voltar por causa da chuva e das ondas fortes.

A noite tinha um cheiro bom. Ou o cheiro bom vinha dele? Ele estava diferente agora. Parecia mais interessante. Ou será que EU tinha mudado desde à tarde? Talvez. Talvez já não estivesse preocupada com o emprego. Aquela porcaria. Tantos anos dando o sangue lá, trabalhando até tarde da noite, viagens, finais de semanas interrompidos. Gringos desgraçados. Não queria mais pensar neles. Que se danassem. Queria aproveitar o cheiro da noite e rir. Viver e rir. Rir muito.Como pude ter ficado tanto tempo vivendo aquela vida escura de terninhos pretos? Vestia agora bermudas brancas, bata verde e sandália baixa, roupa que combinava bem com o calor daquela noite. Ele ficou sem fala quando nos encontramos. Disse que eu estava linda.... Hum....me olhei no reflexo da vitrine de uma loja. Acreditei no elogio que parecia sincero. Afinal, era bom estar com ele. Ele era bonito, era interessante, era alegre.

A manhã chegou e eu estava no píer. Parada. Esperando. Ele viria. Ele sempre veio. Nunca iria me deixar lá, sozinha.

Durante o jantar ele contou que há 1 mês me via almoçando sozinha. Às vezes lendo um livro e comendo. Às vezes com o notebook, e comendo. Sempre sozinha. Disse que já conhecia cada expressão minha, cada hábito. Fiquei espantada. Nunca tinha reparado nele. Disse que criou coragem para conversar quando viu meu jeito triste e pensativo. Pela primeira vez eu não tinha tocado na comida na hora do almoço.
Ele era maravilhoso. Passamos a nos encontrar todos os dias e eu o acompanhava quando ia surfar. Passei a amar o cheiro do mar. Era o cheiro dele.

O resgate continuou as buscas por todo o dia. Trouxeram um sanduíche mas eu não quis comer. Meu estômago estava embrulhado. Sentia vontade de vomitar e tremia. Ele estava bem. Eu sabia. Eu sentia.

Na primavera ele trouxe um anel. Anel de noivado. Fiquei paralisada, espantada, e feliz. Ele colocou o anel no meu dedo e disse: casa comigo. Não era uma pergunta. Era um pedido meigo, com voz carinhosa. Não respondi. Dei um beijo em sua boca e ficamos abraçados. Parecia que eu o conhecia desde sempre. Fazia 6 meses, mas parecia uma vida.

A noite chegou novamente no píer e eu estava ainda com a mesma roupa. Não queria sair de lá. Não acreditava que ele não voltaria. Ele voltaria. Disse que casaria comigo. O anel que ele comprou estava em meu dedo. Como poderia ele não voltar?

Perguntei a ele que presente gostaria de ganhar. Afinal, tinha me dado um anel. Ele sorriu, o sorriso branco no rosto queimado de sol disse: você. Eu quero você pra sempre.

O resgate insistiu para que eu fosse para casa, mas eu não quis sair. Os pescadores experientes diziam o que o pessoal do resgate não queria me dizer: com o tempo que fez, impossível que ele voltasse vivo. Não havia chance.

Olhei o mar que ele amava. O mar que era a casa dele. Lembrei de suas palavras: quero você pra sempre.

Tirei o anel do dedo e joguei no mar. Saí andando, de volta à vida escura.

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

O HOMEM

A porta da gaiola estava aberta, mas o pássaro não voava.
O homem ficou olhando sem entender. "Por quê o pássaro não voa?", pensou.
O pássaro ficava à porta, no limite entre a liberdade e a gaiola. Não voava.
Há algum tempo o homem havia encontrado o pássaro em um lugar distante dali. Estava de passagem por aqueles lados, quando viu o pássaro no canto. Quieto. Sozinho. Machucado? Não, não estava...
O homem foi chegando perto, devagar, curioso. O pássaro não voou.
Ele tinha algo estranho, diferente. Era diferente dos outros pássaros que cantavam alto, barulhentos, e fugiam ao menor sinal de aproximação. Esse não. Esse tinha alguma coisa. Não fugiu. Ficou lá... no canto.
O homem pegou o pássaro e o levou para casa. Comprou uma gaiola bonita. Achou que o pássaro precisava de uma gaiola bonita.
O homem, que vivia até então sozinho, passou a cuidar do pássaro.
Todos os dias.
Em sua solidão de homem, passou a amar o pássaro.
O pássaro retribuía o amor do homem, cantando.

O PÁSSARO

O pássaro sentia-se triste e sozinho, quando o homem apareceu.
Naquele momento ele tentava ver o mundo uma forma diferente. Não por cima das copas de árvores, protegido, mas do chão.
Via pessoas passando apressadas, sem olharem para ele. Algumas o viam e desviavam, talvez para não machucá-lo. Outras continuavam seu caminho não se importando com ele.
Ele foi para um canto, para não ser pisado, e lá ficou, olhando o mundo.

Quando o homem apareceu, ele não ofereceu resistência.
O homem tinha um olhar doce, e falava com ele. Ele não entendia o que o homem dizia, mas a voz... o tom de voz do homem era suave, como música...como um canto de pássaro, que ele entendia tão bem.

Em seu coração de pássaro, aprendeu a amar o homem que dia-a-dia cuidava dele com amor. Alegrava-se quando o homem chegava do trabalho. O homem dava atenção e carinho, como ele nunca teve antes, no mundo dos pássaros.
Mas, no restante do tempo, quando o homem não estava em casa, ele ficava triste, sozinho em sua gaiola.
Começou a sentir falta dos outros pássaros. De sua família. A família que ficou naquela árvore tão distante, quando o homem o pegou.
Mas ele amava o homem.

O HOMEM


O homem começou a observar que o pássaro andava triste. Já não cantava.
Achou até que o pássaro poderia estar doente. Mas não estava. Imaginou, então, que era a saudade... Saudade de pássaro.

O homem foi ficando triste também.
Seu coração de homem queria continuar com o pássaro que ele amava, mas o mesmo amor o fazia querer vê-lo livre, outra vez cantando. Então, naquele dia, o homem decidiu libertar o pássaro. Mas o pássaro não voava. Ficava apenas na porta da gaiola.

O PÁSSARO

O pássaro não entendia porquê o homem abrira a porta da gaiola. Não o queria mais? Não o amava, como ele amava o homem?
O pássaro olhava o homem e o mundo, agora sem grades.
A alma de pássaro queria voltar às árvores.
O coração de pássaro queria ficar com o homem.

Teria o homem cansado dele, porque ele não mais cantava?

A ESCOLHA

O coração do pássaro o fazia não voar.
O coração do homem o fazia esperar.
Nenhum dos dois parecia saber o que fazer.

Então o homem, com uma das mãos, fez o pássaro sair da gaiola. Suavemente. Em um ato de amor maior. Amor que liberta.

E assim, o pássaro voou, cantando um choro de saudade pelo homem.
E o homem chorou. O choro de
saudade por seu pássaro.