terça-feira, 27 de abril de 2010

Como é grande o meu amor por você.

Em pé, na terceira fila do auditório lotado e “desenhando” um coração gigante no ar, eu estava chorando. Tá, na verdade, eu tava era mesmo me acabando de chorar.
A imagem, me contaram depois, apareceu nos telões gigantes que ladeavam o imenso palco.
Dezenove anos antes, em outro auditório, meu coração disparado também esperava a entrada dela. De longe, a mais bonita. O lábio, cortado e inchado por causa de um tombo. Os cabelinhos castanhos, desgrenhados e grudados na cabeça pelo suor, de tanto correr. (fala sério: quem consegue manter a classe aos 6 anos?). De longe a mais bonita. Fiquei em pé, chorando e aplaudindo.
- É minha filha! – disse eu, chorando e babando. Uma aguaceira só.
Tão pequenininha e com diploma do prézinho!
Dezenas de imagens passaram pela minha mente: cílios cortados com tesourinha na aula de trabalhos manuais aos 6 anos, chiclete nos cabelos aos 7, hepatite aos 9, braço quebrado, cotovelo rachado, febre, colegial, emprego, namorado, faculdade...e, meu Deus! A moça mais bonita no palco!! Tão pequenininha e já recebendo o diploma da faculdade! A musica de fundo era “Como é grande o meu amor por você”.

Fiquei em pé e desenhei um coração imenso no ar, me acabando de chorar.
A imagem apareceu no telão...mas, e daí? Era pra moça mais bonita.

Sem dúvida, a mais bonita.
(Mariana foi graduada Bacharel em Marketing, ontem, 26/04/2010. De longe, a mais inteligente naquela colação de grau).

terça-feira, 13 de abril de 2010

É show!

- E aí mãe? Tá de pé o show hoje?

Claro que tava.
Fazia tempo que eu não ia pra um show. Ou não tinha tempo, ou não tinha companhia. Quando tinha tempo e companhia, não tinha nenhum show que me desse vontade de ver.
Hoje eu tinha tempo e companhia. Também gostava da banda. Muito.
No ultimo show deles na cidade, minha filha foi com amigas e conseguiu entrar no camarim. Ficou praticamente em transe ali, pertinho dos ditos.

- Dá um autógrafo aqui, no meu DVD?
- Claro!
- Fala com a minha mãe pra ela acreditar que eu tou aqui!
- ....!
- Peraí que ta chamando!
- ....
- Mãe! Cê não vai acreditar! Tou no camarim! Adivinha quem quer falar com você?! Peraí mãe!
- Fala aí com a minha mãe!
- ....oi mãe da Dri.... tudo bem?
- ...!!!!! Tu...tu..do..... (voz embasbacada)
- Um beijo mãe da Dri!
- Um...be....
- Mãe, não é um fofo? Peraí, tem mais um. Dá oi pra minha mãe!
- Oi mãe! Sua filha ta querendo ir no próximo show. Deixa ela ir e vai junto, tá?
- Tá........
- Não são lindinhos, mãe? Tchau!
- Tchau......(caí na cadeira)
- GENTEEEEEEEE!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! EU FALEI COM ELEEEEEES !!!!!!!!

Desde aquele dia aumentou a vontade de ir a um show deles. Fofos.

Cheguei em casa correndo do trabalho, banho rápido, jeans e sandália plataforma salto 10.
- Mãe, ce não vai agüentar. Vai de tênis ou rasteirinha.
Não queria ninguém na minha frente, tapando a visão.

- Não. Não esquenta, tou bem.

Chegamos duas horas antes do portão abrir. Fila enorme.
Ficamos lá, os quatro. Papo animado no começo, aos poucos foi diminuindo, na mesma proporção em que a dor na batata da perna aumentava.
- Tua coluna ta entortando?
- Ai que bolsa pesada......
- Meu, não agüento mais ficar em pé. Meu pé tá formigando!
- O meu ta dormente.
- Senta no chão, mãe!
- Eu? Toda arrumada? Nem morrrrta! Morro mas não sento.
- Ó a fila andando aê dona Maria!
- ....
- Calma, mãe. Não reage. Não fala nada.
- ...
- Mãe, presta atenção. Tamo chegando na catraca. Quando a gente passar pela revista, sai correndo pra gente pegar o melhor lugar lá perto do palco, ta?
- ...
- Corre, mãe! Corre!
- .....!!!! Arf...arf....arf......aaaaai......ca....dê ....o ....ar.....? Meu..... Deus..... do..... céu.... meu ...........co....ra....ção........
- Aqui ta bom, né gente?
- Ah-hã, ta ótimo.
- Mãe, aqui ta bom pra você? Cê ta enxergando o palco?
- Tou....arf..... arf... arf.........

Apesar da falta de ar e taquicardia, dava pra enxergar o palco. Um metro e sessenta e oito, mais os 10 cm da sandália, eu era praticamente um muro.
- arf..................arf........(senti a respiração voltando) demora pra começar?
- Mãe, agüenta aí. Faltam só 2 horas pra começar o show.
- Meu Deus....
- Passa rapidinho mãe.
- ....
Exausta de ficar em pé com aquele sandalhão, reparei que pelo menos todo mundo em volta tinha cara boa. Sem dúvida era um show muito “família”. Pessoal tranqüilo, davam uns sorrisinhos pra gente.
Lugar bom a gente ficou, pensei. Gente bacana.

Duas horas depois, as pernas tremiam. A dorsal parecia em fogo. Nada do show começar.

- .... o show não vai começar?
- Calma, mãe. As vezes atrasa um pouco.
- Mas já ta meia hora atrasado..!
- É assim mesmo, mãe.
- Ai...eu quero sentar...
- Mãe, não dá pra sair agora. Guenta aí, senão a gente perde o lugar.
- ...
- Mãe! O que ce ta fazendo?
- Tou dando uma sentadinha aqui...
- Mãe! Levanta! No chão não!
- Só um pouquinho......
- Levanta daí, mãe! Que vexame!

Levantei na horinha que a musica começou.
Gritaria. Povo pulando.
Um cotovelo deu uma estocada no meu peito. Alguém fincou o tênis no meu pé. Três vezes.

O pessoal calmo e família tinha desaparecido.
Duas grandonas surgiram na minha frente tapando a visão. Quê??! Quatro horas e cinqüenta minutos de pé pra não enxergar nada de nada??? Não meeeesssmo!
Comecei a bater palmas fazendo meus braços rasparem na chapinha das grandonas (mulher odeia que desmanchem a chapinha).As grandonas me olharam feio e foram saindo de lado. Aproveitei a vaga delas e fui indo mais pra frente.
A banda pediu pra todo mundo cantar o refrão bem na hora que um copo de água voou na minha cabeça.
Ódio.
Um cara melecado de suor me abraçou enquanto o povo ensandecido berrava a letra.
Ódio.... ódio.
Foi aí que aconteceu.......

Olhei na direção da minha filha, e vi o guitarrista dando a plalheta da guitarra pra ela!
Que lindo!!!!!!!!! Ele deu um beijo na palheta e entregou pra ela!

- E aí, amiga. Foi no show ontem com as filhas? Como é que foi?
- Tãããão lindo!!!!! Amei! Showzáço! Ma-ra-vi-lho-so!

segunda-feira, 5 de abril de 2010

O "ser" mãe.

Ser mãe é a coisa mais maravilhosa deste mundo.
Talvez a maravilha que é ser mãe só se compare a uma coisa: ser pai.
Talvez.
Sabe aquela estória de “ser mãe é padecer no paraíso”? Tudo mentira. Cadê o paraíso?
Sim, porque no paraíso não existe preocupação. Ninguem fica sem dormir porque um dentinho tá nascendo. Ninguem fica ajudando a fazer maquete prá trabalhinho de escola até 2h00 da manhã, fingindo que o gel azul de cabelo é rio. Ninguem cuida de uniformes, lanchinhos, leva ao pediatra, dentista, escola...
Não. No paraíso não há essa trabalheira toda que dá ser mãe.
Certeza que lá ninguem chora no primeiro dia de aula daquele serzinho indefeso que até há pouco nem falar sabia; que tudo o que comia era papinha molenga, pois nem dentes tinha.

Não, ser mãe não é padecer no paraíso, porque no paraíso ninguem padece. Mas mesmo padecendo na terra, ser mãe é a coisa mais maravilhosa deste mundo. Talvez só comparada com ser pai.
Já disse isso?. Ah, verdade. Já disse.

Ser mãe é prazeroso. É duro, mas prazeroso.
É duro nos momentos de pegar no pé, de dizer o não necessário, de ver o choro sentido na hora da vacina. É duro não saber o que fazer na hora da queda, da catapora, da virose, da dor de ouvido, da febre, da 32ª vez do mesmo episódio do Chaves e Chapolin Colorado.

É difícil ter todas as respostas para perguntas do tipo: “mãe, como é que a água fica presa na nuvem?”.
Difícil encarar pessoas num elevador cheio, quando a filhinha pequena diz que “a tia que deu aula foi a professora prostituta porque a outra faltou”. Explicar o quê? Dizer “ahhh, filhinha, é substituta, viu?” não melhorava nada.


O sorriso amarelo faz parte da vida de mãe.

Mas ser mãe não é feito só de sorriso amarelo, gel azul, nem vermelho febre.
Ser mãe é um arco-íris de emoções.
Grandes e maravilhosas emoções.
Só comparadas com ser pai.

Talvez.