quarta-feira, 1 de outubro de 2008


- Quer mamão ou melão? – perguntou ele.
- Tanto faz – ela respondeu, com o olhar distante.
- Não prefere melão? – ele insistiu, achando estranha aquela resposta.
- Pode ser – ela respondeu, não mostrando interesse.
- O que você tem? Sempre preferiu melão...
- Voltei ao médico hoje – disse ela com um suspiro, como que soltando algo que estava preso.
- E?
- Bom... – ela hesitou. Olhou pela janela por um instante. Olhar distante, pensativa.
- O que ele disse? – perguntou ele em um tom preocupado, tentando olhar nos olhos dela.
Ela voltou a olhar para ele.
- Eu.......ele disse.......bom.....é um tumor.....aquilo é um tumor – suspirou.
- E....
Ele parou a frase no início. Pigarreou. Colocou um pouco de água em um copo. A boca
havia ficado seca.... Ela percebeu que ele tremia um pouco. Segurou uma das
mãos dele entre as suas. Olhou-o nos olhos. Os olhos dele pareciam mais escuros....
- Não é benigno – disse ela.
- Mas..........bom....quando é tratado no começo, há cura. Em muitos casos! – dizia ele, tentando convencer a si mesmo. Não é? Ele não te disse isso?
- Olha....
Ela não sabia como dizer. Procurava as palavras, mas não tinha nenhuma forma “boa” de contar. Havia uma forma de se dizer essas coisas? Como dizer que você está ali, mas sua vida está indo embora? Ela sentia a angústia controlada dele e então, seus olhos se encheram de lágrimas... ela desviou o olhar, querendo que ele não visse. Mas ele viu.
- O que foi?
- O médico viu....nos exames....tenho outros seis tumores....estão espalhados em meu corpo.
- Não...... – ele gemeu.
- É isso....ele me disse que se fizer o tratamento....é um tratamento agressivo... muito agressivo.... posso talvez viver por mais um ano. Mas não é certeza. Nada é certeza. Aliás, só uma coisa é certeza....
Ela já não conseguia segurar as lágrimas que rolavam grossas por seu rosto.
Ele apertou as mãos dela. As lágrimas também nele teimavam em sair. Parecia que
queimavam seu rosto. Eram quentes.
- Como....? – disse ela baixinho, a voz saindo trêmula. – Como pode ser? Eu me sinto tão....viva! Eu sinto o meu coração bater...eu penso...eu penso! – ela começou a soluçar. Já então seu corpo todo tremia. Ela sentia medo.
- Eu estou com medo – disse ela......- Eu não quero morrer!
Ele a abraçou, chorando. Apertava o corpo dela como querendo que nunca partisse.

Não...! Aqueles passos de novo?
Téc! fez o barulho do botão da TV.
- Ah, mãe! Na melhor parte!!! Liga aí, vai?
- Não! Já falei que tá tarde. Vai dormir!
- Mas mãe, amanhã não tenho aula! Mãe, vai! Deixa!! Mãe, ta na parte mais triste!
- Não, já falei. E odeio filme triste – decretou a mãe sem paciência, pondo um ponto final na discussão.

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